26 de dezembro de 2007

Gosto mais dos casos que Chico cantou e das histórias que Garcia Márquez escreveu.
Hoje tatuei minha vida em mim.
Outra metade dela, tatuei nas encostas do rio.
Uma história que não é minha.
Mas criei e sou a protagonista não revelada.
O sujeito do não-acontecer.
Reinventei-me para poder viver.

Faltou-me o verbo.
A canção.
O tato.
Até a lembrança.

E silêncio e sozinha.
Dona de uma história que só acontece aqui, cá bem dentro daqui.
Agora já não é mais nada.
Apenas certezas vãs. E o nada.
Tudo passou diante dos meus olhos e dos meus gestos.
Eu nada pude fazer.
E agora tudo está em seu devido lugar.
Cá dentro de mim o mundo revirou-se.

Eu calei.
Silenciei.


Neguei-me a mão que passeava.
Nada fiz.
Nada.

27 de novembro de 2007

Fragmento de uma madrugada.

Isso acontece com os livros.

São sentimentos de páginas abertas.

14 de novembro de 2007

É que quando eu vejo as pessoas na rua, se escondendo nos bares para fugir da chuva, penso até em querer ficar.

28 de outubro de 2007

Do Engradado


Hoje é dia de samba em Piraju também.

Domingo povoa as ruas de batuques.

eu aqui.

eu ali.

eu lá

Vai Vai

Pela janela de casa um samba de longe invade todo o lugar.

É uma pena que eu não possa ir para lá sambar.

6 de outubro de 2007

sobre música e sem qualquer pretensão

Hoje, depois de uma semana repleta de dias difíceis, de descobertas e oscilações de humor, assisti, logo que acordei, a um DVD de Chico e Tom. Há bem poucos dias atrás, estava enfadada da voz do Chico, como relatei em outro texto. No entanto, hoje, enquanto as imagens circulavam pela tela, reafirmei meu gosto pela música, dele e de tantos outros músicos maravilhosos que existem nesse país.

Sem querer pensar muito sobre o assunto, várias vezes já cheguei à conclusão de que a música é a forma mais sublime de arte. Ela, mais rapidamente que todas as outras artes, atinge nosso ponto (de noção quem sabe) estético, emocional etc e tal. Esfria a medula, e hoje, aqueceu e umedeceu meus olhos.

Gosto muito de música, não há grande surpresa nisso, difícil quem não goste, por isso é tão sublime, simples maneira de fazer arte. Bem, pelo menos de senti-la.

Gosto quando predomina o silêncio musical, daquele silêncio espontâneo que existe quando amigos meus fazem música. Serenidade, sem mais delongas sobre o que essa palavra possa significar.

1 de outubro de 2007

Desabafo da preguiça


(Uma pausinha no Passarinheiro só porque eu quis. Essa é que é a verdade)


Todo dia, mesmo que ele seja sempre um novo dia, dá um pouco de preguiça.


De abrir o jornal diário e encontrar sempre o mesmo tipo de notícia.


De abrir o olho quando acorda e saber que o mesmo problema ainda precisa ser resolvido.


De saber que a rima do poema às vezes é ruim e que às vezes também não tem sentimento algum.


De saber que o sol queima e algumas vezes arde, outras, que ele deixa uma cor bonita na pele.


De acender o primeiro e mais prazeroso cigarro, aquele depois do café da manhã, e saber que ele vai te adoentar daqui a algum tempo.


Também dá um pouco de preguiça da voz do Chico, mas essa informação eu mantenho em segredo.

29 de setembro de 2007

João Passariheiro - outra parte

A capela ocre estava cheia de pequenas flores amarelas e brancas no contorno dos bancos e em arranjos dispostos pelo altar pequeno de alvenaria ainda não rebocado. Para a solução deste problema, Delfina sacou de um baú adormecido no quarto de sua falecida mãe, uma toalha branca com bicos de renda. Era essa mesma toalha que a mãe usava para cobrir a velha mesa de madeira de sua infância durante os almoços dominicais.

Delfina era muito parecida com a mãe, tinha os cabelos longos e negros até as costas, lisos como um tecido fino de seda. Quase todos os dias usava vestidos floridos e chinelos de finas tiras de couro. Passava horas frente ao espelho escovando os cabelos. Nessas horas sonhava com seu casamento com um fazendeiro rico, que tivesse casa e carro e que apareceria de repente, trazendo-lhe flores e trajando terno xadrez de tons pastéis. Quando encontrou João Passarinheiro e inevitavelmente se apaixonou, também aprendeu a lamentar frente ao espelho a triste sorte de se apaixonar por um sujeito magricela sem carro e sem casa, que trabalhava na colheita de café nos sítios e fazendas da região, se aboletando em qualquer canto escuro para dormir e, muitas vezes, dependendo da generosidade de seus patrões. Levava uma barraca de lona nas costas e andava feito um caramujo com a casa nos passos.


Passarinheiro perdeu a casa de seus pais quando fez dezessete anos, logo após a morte de seu pai, que padecera louco depois do sumiço repentino de sua mulher, vítima de uma febre de cuidados banais que alimentava uma busca cega pela limpeza e pelo bem-estar da família. Belo dia, tomou o rumo da estrada em busca de sabe-se-lá o que e perdeu-se na escuridão e, por mais que João e seu pai procurassem, a mãe perdia-se cada vez mais pelo matagal, até ser absorvida por ele.

24 de setembro de 2007

João Passarinheiro e o que virá por aí.

Estes textos que lerão em breve são fragmentos da vida de João Passarinheiro. Inventei outro dia que ele existia e agora, cá pra mim, ele já tem uma vida toda dele, embora seja ela toda minha. Muitas coisas eu vou mudar, outras vou corrigir, mas a intenção é publicar assim, CRU.

Vou escrever devagar e postar quando der vontade. Ainda não tem fim, nem meio, mas já é um começo. Pra escrever João Passarinheiro vou precisar de Piraju e das conversas e estórias de lá. É assim mesmo.

Também estou disposta a aceitar sugestões, se alguém quiser contribuir com o futuro do personagem. Não garanto que ele rume para algum lado, mas vou gostar de saber que ele pode ter outras chances. É isso, e por enquanto, é só isso.



João Passarinheiro se encontrou com Delfina, que achava muito bonito chegar atrasada em festas. Considerava uma displicência elegante, digna daquelas pessoas que pouco se importam com tudo e todos. Em sua imaginação de futura estrela, aquele desdém simbolizava o mérito somente conferido as grandes estrelas que, de tão reconhecidas seja lá por que coisa, não deviam satisfação a mais ninguém. Naquele dia, era ela a grande estrela. A capela estava arrumada conforme seu gosto. Cada detalhe foi pensado e sonhado desde que decidiram se casar. A capela ficava em uma pequena estrada de terra que ligava nada a lugar nenhum. Escolheram a pequena igreja porque fora lá que Passarinheiro nasceu. Sua mãe teve um parto difícil, apesar de uma gravidez tranqüila.

Na ocasião, havia um panfletinho de Nossa Senhora Desatadora dos Nós no bolso de seu pai, que ficou rezando de olhos cerrados para que o filho nascesse bem, ainda que parido ali, no meio de uma estrada por onde só se passava gente a pé, nenhum carro, carroça ou carro de boi.


Com o sucesso do parto e diante da criança saudável que nascia, decidiram erguer ali a capela em homenagem a santa. João Passarinheiro, mesmo pensando em toda a dificuldade de realizar ali o casamento, não hesitou na hora de escolher o lugar. Delfina a princípio não gostou da idéia, mas depois leu em uma revista no dentista que uma atriz famosa escolhera, mês passado, um lugar parecido. A atriz falava de um casamento rupestre, simples que só, afirmando assim a possível existência de uma felicidade maior do que aquela cheia de pompa e circunstância com a qual sonham a maioria das noivas.

(Continua no próximo post e vai continuando sempre)

23 de agosto de 2007

A China inventou tudo!

Em uma de minhas várias noites insones, escolhi a televisão como companheira. Andando por canais e por programas que passam na madrugada, me deparo com a TV Escola apresentando um daqueles programas educativos (que por sinal gosto muito, mesmo até daqueles feitos para crianças) sobre a China. E gente, acreditem, a China inventou tudo.

Minha primeira surpresa, já há alguns anos atrás, com as invenções mirabolantes do país, foi a invenção do macarrão. Eu conservava comigo a certeza de que esse alimento era algo genuinamente italiano. Depois pensei que talvez essa fosse uma daquelas coisas como os ingleses inventaram o futebol, mas foi o Brasil quem tornou o esporte popular e quem melhor desenvolveu a técnica. Mas meus amigos, pasmem, a China inventou o futebol. Há registros de dois mil anos atrás de chineses brincando com uma bola, tal como é no futebol, esse esporte que sempre nos foi apresentado como uma invenção de Charles Miller. Pois é, Miller que nada, foi o Marco Pólo, que pelo visto não era bobo nem nada, quem passou uns tempinhos na China, só de olho nas invenções dos caras e quem, também, levou tudo para a Europa, que acabou ficando conhecida como a grande inventora das coisas necessárias para a humanidade.

E por falar em inventores e suas conseqüentes idéias geniais, até Leonardo Da Vinci acabou caindo um pouco no meu conceito, depois de uma outra descoberta não menos surpreendente que fiz ali, diante da tela da TV Escola. Quando a exposição sobre o gênio veio para São Paulo, eu fiquei convencida de que ele tinha inventado as coisas mais importantes dos últimos tempos, mas não, ele inclusive tomou como sua, uma invenção genuinamente chinesa que eu conheci na minha infância, quando passei por Barra Bonita, no interior de São Paulo, a eclusa. A eclusa serve para que os barcos que navegam em rios serem transportados quando acontece um desnível, que o barco não conseguiria ultrapassar se não fosse a maravilhosa eclusa. Então, essa era uma invenção atribuída a Leonardo, no entanto, foi também a China e seus chineses que criaram o mecanismo. Isso porque os caras fizeram um canal navegável, há muito tempo atrás, que passa por boa parte do país. Para gente ter noção da dimensão, é um canal que possui uma extensão como se saísse de Porto Alegre, e chegasse até Cuiabá. Impressionante! Os caras cavaram aquilo, milhares de chineses passaram um bom tempo dedicando-se a esse processo infindável de abrir canal pelos estados e cidades e aldeias. Tudo isso pro comércio fluir melhor.

A China inventou a pipa e, depois disso, o flanador, usado como inspiração para os modelos posteriores de aeronaves. Santos Dummont já era!

Na agronomia então nem se fale. Os chineses eram expert’s. Inventaram o arado, a bomba d’agua para a irrigação, os restaurantes etc. A TV me conta, inclusive, que, a partir de então, o imperador começou a fazer encomendas de refeições para esses lugares, inventando assim, o primeiro serviço de buffet. Olha que coisa! Acho que não é a toa que hoje é uma economia potencial. Eles devem estar inventando cada vez mais coisas.

2 de agosto de 2007

Eu preciso de dinheiro.

___________________De rumo.

___________________De ar fresco.

___________________De luz do dia.

Eu preciso voltar.

______________Ir.

______________Estar.

______________Ficar.

Eu preciso de palavra e verbo.

_________________________De silêncio.

_________________________De batucada.

Eu preciso calar.

_____________E falar.

27 de julho de 2007

Ponha sua saia mais bonita.

Nós vamos sair para tocar o ar.

Se chover, respiramos água. Se ventar, a gente deixa o cabelo bagunçar.

Vamos descalços. Deixa o chão tocar.

Não importa se grama ou pedra, tem mais importância pisar.


Abra suas mãos.

Deixa o mundo passar entre os dedos.

Não há nada que não se possa apalpar.

Feche os olhos e ande às cegas.

Confie no embalo do som das coisas.

Depois abra e conte quantas cores existem a cada quarteirão.


Há mais vida no imprevisto que na razão.

19 de junho de 2007

Sobre o fim.

Nada se faz pensando no advento do fim.

A ação é intuitiva. Por mais que ela seja orientada pela racionalidade.

A técnica não prevê o fim. Prevê sim a construção de meios para um fim proveitoso.

O fim, embora sempre chegue, não é o alvo de quem inicia algo.

Um bom texto começa a ser escrito a partir de um bom final.

A vida é uma construção de meios para a lembrança alheia de um bom final.

8 de junho de 2007


Compartilhando...


Assisti "O poderoso chefão", dias atrás.


Até agora o filme não me saiu da cabeça.


Em tempo, tive vontade de fazer parte da máfia italiana.


Seca. Suave. Fria. Calorosa. Inteligente. Perspicaz. Racional etc e tal.
(esta foto está protegida pelas leis do
copyright, infelizmente)

8 de maio de 2007

Eu tinha um sorriso calmo naquela época. Os olhos serenos como se houvesse ali um rio calmo refletido.

Eu tinha os pés dançantes, inquietos para girar conforme o vento que rodopia em seu percurso que anuncia tempestade.

Eu tinha as mãos afáveis. Acariciando os cabelos dos meus amigos. Todos os dedos entreabertos para sentir a passagem da chuva.

Era um tempo em que as aflições eram causadas por mim e se não as houvesse, eu talvez as procurasse, só para sentir o palpitar mais forte do coração que caminha sem saber para onde ir.

Tinham mais forças as minhas palavras, era mais pungente a minha coragem, era mais desafiadora a minha luta.

Caminho por um oceano de incertezas, alçando velas e contando histórias que não aconteceram. Descobrindo os sete mares e descobrindo que os mares estão cada vez mais menos querendo ser descobertos.

Tenho medo de endurecer. Medo de acreditar cada vez menos e fazer dessa chaga um caminho a se traçar. Medo de temer as pessoas e perder a confiança no meu igual.

Confio num futuro fugaz .Tremulamente construído a base de sonhos e divagações.

Não vejo um palmo a frente. Só espero a onda passar.

23 de abril de 2007

[O mundo - caquinho de vidro -
tá cego do olho, tá surdo do ouvido
O mundo tá muito doente
O homem que mata, o homem que mente]
Zeca Baleiro, Chico Cesar, Lenine, Paulinho Moska


Não existe nada de errado em querer mudar o mundo, existe? Afinal de contas, ele é chato, trata as pessoas de maneira desigual e anda caduco, como bem nos adiantou Drummond décadas atrás.

Tenho percebido que o mote “mudar o mundo” virou símbolo de uma juvenília sonhadora. Conformar-se se tornou símbolo de amadurecimento. Mas isso não deveria ser assim, deveria?

Afinal de contas, mesmo o mais feliz dos seres sempre encontra algo do que se queixar. Sempre aponta que algo está errado. E o que a gente faz quando algo está errado? A gente concerta, muda. Isso é uma unanimidade, todo mundo diz que o mundo está errado. É por isso que eu me pergunto: O que há de errado em querer mudar o mundo?Ou então mudar o mundo tornou-se sinônimo de adultecer? Então lá um adulto nunca muda o que está errado?

Partindo de uma constatação absolutamente empírica, não vejo que isso é o que realmente acontece. Então porque não querer mudar o mundo? Ou pior, considerar que quem o quer mudar é apenas um imbecil sonhador?

Sabe aquela coisa bem velha: se não quer ajudar, também não atrapalhe? Pois é, acho que deveria ser assim! E olha que mudar nem sempre envolve grandes riscos. Há mais riscos em deixar rolar o que errado está. Então, por favor, se eu sou a fim de mudar e você não, também não vá torcer para que isso não dê certo. Até porque, o mundo que eu quero mudar não é só meu, é seu também.

É do rico poderoso que vive muito bem obrigado, mas sempre com medo da violência que o espreita, quanto do cara que todos os dias vende balas nos trens para dar de comer aos seus filhos e tem outros medos tantos.

9 de abril de 2007

Sempre é assim quando eu vou e piora quando eu volto. Sempre a melancolia, a última cerveja, as roupas passadas na mala já rasgada, a saudade dos tios, a despedida na rodoviária pequena e escura. Sempre o cigarro antes da partida.

É assim todas as vezes. Eu teimo em ir, eu me arrependo de ficar e me entristeço ao sair.
Quem sabe seria melhor se eu não mais voltasse, mas também não serviria de nada a ansiedade que guardaria ficando por aqui. O fato é que eu sempre acabo indo, sempre hesitando antes de decidir ir, sempre com preguiça e cabisbaixa por ter de voltar.


Para quem não percebeu, cá estão, escondidas na subjetividade, as angústias de quem abandona sua terra, mesmo que não seja ela, natal.

É difícil explicar o vínculo com a terrinha, é tentador rompê-lo, é impossível conseguir. São as pessoas que te viram crescer e a liberdade que se tem no convívio, a saudade de só estar junto. Depois tem também aquelas vidas que fazem parte da sua de tanto que a gente sabe sobre elas. Interior né? Só observando tudo isso é que a gente consegue pensar naqueles autores que pensaram a comunidade e o lugar do indivíduo nesse contexto teórico e maluco entre sociedade e comunidade. Se eu me permitisse, se eu concordasse comigo, se eu ousasse distribuir conselhos, diria a todos que experimentassem uns meses no interior.

Vicia.

5 de abril de 2007

Ah, se os tempos fossem outros! As perguntas e afirmações seriam também diferentes

Machado de Assis bloga no terreiro de Mãe Menininha do Gantois, que também já passou dessa para melhor

28 de março de 2007

Todo mundo vê as pinga que eu tomo, mas não vê os tombo que eu levo

Conhece o ditado? É exatamente assim.

Só adiantando o assunto ao leitor com mais expectativas, esse texto não será nada além de um desabafozinho. E digo desabafozinho porque eu não sou lá mulher que vai fazendo da internet seu diário pessoal, esperando que alguém se comova com minhas aflições e besteirinhas.

Tá, vá lá, que implicitamente sempre tenha algum desabafo real, mas é algo que sempre carrega uma dose de sutileza, que tem mais sentido para o que o leitor gostaria de entender, que para a farsante escritora que vos fala.

Mas voltando ao ditado. A sabedoria popular não tem erro. E olha que eu tento sempre fugir das generalizações e das regras que as pessoas ingenuamente se impõe. Sempre fui mais a favor das descontruções. Mas de repente, lá no meio do seu caminho florido: PIMBA!

E vem a realidade da sabedoria popular a nos fazer meter os pés pelas mãos. Aquela velha estória infantil de não parar para conversar com o lobo mau. Ou seguir o conselho do irmão mais sábio e construir a casa de alvenaria, ao invés de palha e madeira.

Mas não. Eu nunca faço nada disso. Eu sequer escuto conselhos. Mesmo que eu ache que conselho quase nunca serve para alguma coisa. A experiência do outro nunca nos comove a ponto de não pisarmos naquela casca de banana que a 100 metros à frente, alguém alertou.

E fim. Continua no próximo tombo.

24 de março de 2007

Pelo buraco da fechadura é possível enxergar uma luz que vem do apartamento da frente. Uma luz cálida, que compõe o ambiente do lugar. Paredes de madeira escura proporcionam um clima de resignação.Sentado à poltrona repousa um senhor de certa idade. Ele olha para dois lados opostos e começa a se lembrar de coisas que viraram fotografias.

– Porque é assim que as coisas são - pensa o senhor, já elaborando teorias sobre suas próprias lembranças. – O que faz a gente viver com tanta vontade certas ocasiões e depois perceber que elas não mais existem como coisa em si e futuramente, serão somente fotografias, paradas, com os sorrisos congelados e o vento que já passou pelas folhas das árvores. O tempo que a gente viveu naqueles quintais de terra e flores mal diagramadas por deus.

19 de março de 2007

O motivo é o motivo que falta.

22 de fevereiro de 2007

Quem é Teodora Maria?

Teodora Maria não sabe escrever, embora ela pense que sim. Coitada!

Teodora Maria não faz planos. Tem mania de esperar que os planos a façam.

Teodora Maria tem inveja da vida da novela. Passa horas pensando que poderia ter uma vida daquela.

Teodora Maria gosta de Capitu e Macabéa. Uma porque não capitulou e duvidou, outra porque se sente perdida na metrópole.

Teodora Maria não tem tempo. As vezes ela acha isso bonito. Outras vezes ela gosta do tempo que falta.

Teodora Maria gosta do sim e do não. Mas gosta mais do sim.

Teodora Maria não tem chão, ainda não achou o seu. Embora ela não procure.

Teodora Maria gosta de cerveja e de botequim. Também gosta de comida congelada.

Teodora Maria quer escrever. Mas Teodora Maria não sabe de nada.

(E, além disso, ela não sabe escrever. Coitada!)

13 de fevereiro de 2007

É uma felicidade barata, mas é dessas que não se encontra pra comprar em qualquer lugar. E também, por mais que o mundo funcione assim, felicidade não é lá algo que se compre. Um sentimento que surge sem nenhuma razão, ou até pior, surgiu em meio a condições adversas de tempo, espaço, clima, pressão atmosférica, luz, som, tudo. Às vezes é a própria vida que surpreende, mesmo que a gente não mexa sequer um pauzinho pra colaborar.
Talvez seja também o fato de que a gente não se deixa surpreender. Porque todo mundo tem um certa mania de previsibilidade e age mais diante dela, por mais que gostemos do imprevisto e que enxerguemos mais vida nessa lacuna do inesperado.


[Não sei porque eu tô tão feliz
Não há motivo algum pra ter tanta felicidade
Não sei o que que foi que eu fiz
Se eu fui perdendo o senso de realidade
Um sentimento indefinido
Foi me tomando ao cair da tarde
Infelizmente era felicidade
Claro que é muito gostoso
Claro que eu não acredito
Felicidade assim sem mais nem menos é muito esquisito]

(trecho da música Felicidade, de Luiz Tatit, bom lembrar que essa música não está em CC's, como o resto do blog)

5 de fevereiro de 2007

Aprenda a ser sozinho.

Essa é uma lição quase constante.

29 de janeiro de 2007

O que eu não sabia era que o medo do adulto pulsa como o da criança.
Lembro-me bem das noites insones da infância em que me escondia nas asas de meus pais e isso me bastava.
Penso hoje que o medo que tinha antes, nada tinha a ver com a realidade. Hoje é ela que me amedronta.E a falta de sono de hoje em dia, me espreita com um violência desmedida.

8 de janeiro de 2007

felizanonovo.


PINGO DE TEMPO

RESPINGA


TEMPO PINGA SAUDADE

ANO QUE VAI É O MESMO QUE VEM

MUDA É O COMEÇO

ACABA NO FIM

E RECOMEÇA .

SEMPRE.