10 de dezembro de 2008

Carta crua

Não me ame. Eu só vou até ali. Depois disso fica confuso. Eu não sei como conduzir, a estrada fica escura e eu paro o carro. Você pode até pensar que é exagero, mas te digo: eu não alcanço. Meu caminho chega ali e pára, olha pra minha cara e pergunta pra onde eu vou. Respondo que eu não sei. Que na verdade eu nunca soube, que sempre meio deixei levar, que ia conforme o vento. Se via que estava errada, colocava o sapato e voltava, sem medo de perder. Aquele medo típico de quem não sabe onde está. Depois disso fui seguindo, arriscando aqui e ali, nada que me trouxesse pra perto, mas também que não me conduzisse pra longe. Andei no limiar das ruas que não tem saída, depois procurei outras que me levassem para cruzamentos certeiros. Esperei. Não havia o que fazer.

Enquanto isso te deixei aqui, não dei satisfação sequer. Achei que não deveria. Fui conduzindo como achava que era. Sem encontrar nem perder caminhos. E o fato é que não me perdi, mas estive muito mais distante de me encontrar. Negando o que achava que devia, me perdi em contradições, tive vontade de voltar, mas não obedeci. Fugi para outros cantos e procurei novas pessoas. Aterrorizei-me. Fiquei no escuro e em silêncio para que eu não desistisse de ser encontrada, embora isso não estivesse nos meus planos, depois deixei de precisar. Pensei em muita coisa, até em me matar, veja só, mas nem esse era o caminho que eu perseguia, nem resolveria meu problema e saciaria minhas questões. Deixei as coisas para mais tarde, e quanto mais tarde ficava, mais essas coisas acabavam me perseguindo. Eu virei refém.