29 de outubro de 2011

Rua da Consolação

Vou escrever para te contar que lembrei de você. Que escrevi sobre você e que até vi, de relance, seu olhar mortiço e confuso se espalhando pelas ruas. Inundando a Consolação. A cidade toda. Fazendo chover mais do que já chovia quando o táxi passou, sem perceber, pelo farol vermelho.

Meu primeiro impulso foi esboçar um aceno. Talvez um afago (para parafrasear João Gilberto Noll). Mas no momento em que o carro cruzou a rua tive tempo de quase falar, quase levantar as mãos, quase abrir os vidros. Os segundos que correm nas ruas velozes, no entanto, apenas me permitiram respirar rapidamente como quem traga sem esperar pela fumaça. E depois suspirar de surpresa ao me dar conta de ter perdido um diminuto intervalo de tempo.

Depois de viver um segundo como quem permanece um dia todo em silêncio, lembrei que você não teve coragem. Eu tampouco. E nas memórias da minha retina o meu claro desinteresse ficou opaco.

Talvez tenha sido a chuva. Talvez o final da tarde que ventava e trazia já os dias quentes. Mas você estava belo e pleno. Simetricamente vestido e despenteado. Imensamente inconveniente. Uma pedra no meu sapato novo.

28 de julho de 2011

SMS's

Refletindo percebo que alguma solidão é minha culpa. Meu silêncio me absolve enquanto me condena.
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No silêncio pensamos sem palavras.
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O estranho é se dar conta desse silêncio cercada de um sem número de decibeis.
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O silêncio aparece no intervalo das notas. O silêncio revela.
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Exato. E revela sem escancarar.
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Quero uma solidão a dois.
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Utopia? Quem sabe. Eu almejo o silêncio concedido pela intimidade.
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A solidão a dois pode significar nós.
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O silêncio confortável da intimidade sem dúvida significa nós.
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A exatidão te cabe.

24 de março de 2011

minuto.

Tenho pressa.

E ardo.

No intervalo em que os dias correm.

7 de fevereiro de 2011

Outro olhar sobre a Vaca Profana

Respeito muito minha risada, mas ainda mais o meu silêncio.

28 de janeiro de 2011

Pensando, esqueço.

Sentimentos de ausência me chegaram naquela tarde. Não me abandonariam mais.

Lembrei-me das tantas mulheres com olhares ausentes. Lembrei-me de me perder e dos descaminhos.

Não há dor que não passe, mas algumas ausências são presenças eternas.

Senti sombra. Senti tempo.

12 de janeiro de 2011

Restos.

De tudo, talvez tenha ficado esse cheiro da ausência, essa saudade marcada pelo tempo. A saudade do que a gente deixou de fazer

De tudo, talvez sobre um suspiro lento e um abraço. Talvez sobre o gosto do ano que acabou, do dia que caiu pra noite.

De tudo, talvez nos sobre o silêncio. A palavra escondida. A página mal diagramada. A lembrança da morte. O susto das notícias espalhadas nos jornais.

Talvez sobre o sabor daquele livro. A sonoridade das risadas e os olhos presos no horizonte.

De tudo. Talvez nada.