4 de junho de 2012

Amar a música, o cinema, as palavras e o silêncio. Amar as luzes da cidade e o barulho verde do rio.

Amar as ruas e as cores.
O céu e a calçada turva.

Relembrar as flores da infância.

Esquecer as horas, adorar o tempo.
(O passar do tempo.)

Ter afeição pela verdade.
Aceitar a fantasia.

Alegria.


29 de outubro de 2011

Rua da Consolação

Vou escrever para te contar que lembrei de você. Que escrevi sobre você e que até vi, de relance, seu olhar mortiço e confuso se espalhando pelas ruas. Inundando a Consolação. A cidade toda. Fazendo chover mais do que já chovia quando o táxi passou, sem perceber, pelo farol vermelho.

Meu primeiro impulso foi esboçar um aceno. Talvez um afago (para parafrasear João Gilberto Noll). Mas no momento em que o carro cruzou a rua tive tempo de quase falar, quase levantar as mãos, quase abrir os vidros. Os segundos que correm nas ruas velozes, no entanto, apenas me permitiram respirar rapidamente como quem traga sem esperar pela fumaça. E depois suspirar de surpresa ao me dar conta de ter perdido um diminuto intervalo de tempo.

Depois de viver um segundo como quem permanece um dia todo em silêncio, lembrei que você não teve coragem. Eu tampouco. E nas memórias da minha retina o meu claro desinteresse ficou opaco.

Talvez tenha sido a chuva. Talvez o final da tarde que ventava e trazia já os dias quentes. Mas você estava belo e pleno. Simetricamente vestido e despenteado. Imensamente inconveniente. Uma pedra no meu sapato novo.

28 de julho de 2011

SMS's

Refletindo percebo que alguma solidão é minha culpa. Meu silêncio me absolve enquanto me condena.
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No silêncio pensamos sem palavras.
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O estranho é se dar conta desse silêncio cercada de um sem número de decibeis.
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O silêncio aparece no intervalo das notas. O silêncio revela.
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Exato. E revela sem escancarar.
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Quero uma solidão a dois.
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Utopia? Quem sabe. Eu almejo o silêncio concedido pela intimidade.
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A solidão a dois pode significar nós.
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O silêncio confortável da intimidade sem dúvida significa nós.
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A exatidão te cabe.

24 de março de 2011

minuto.

Tenho pressa.

E ardo.

No intervalo em que os dias correm.

7 de fevereiro de 2011

Outro olhar sobre a Vaca Profana

Respeito muito minha risada, mas ainda mais o meu silêncio.

28 de janeiro de 2011

Pensando, esqueço.

Sentimentos de ausência me chegaram naquela tarde. Não me abandonariam mais.

Lembrei-me das tantas mulheres com olhares ausentes. Lembrei-me de me perder e dos descaminhos.

Não há dor que não passe, mas algumas ausências são presenças eternas.

Senti sombra. Senti tempo.

12 de janeiro de 2011

Restos.

De tudo, talvez tenha ficado esse cheiro da ausência, essa saudade marcada pelo tempo. A saudade do que a gente deixou de fazer

De tudo, talvez sobre um suspiro lento e um abraço. Talvez sobre o gosto do ano que acabou, do dia que caiu pra noite.

De tudo, talvez nos sobre o silêncio. A palavra escondida. A página mal diagramada. A lembrança da morte. O susto das notícias espalhadas nos jornais.

Talvez sobre o sabor daquele livro. A sonoridade das risadas e os olhos presos no horizonte.

De tudo. Talvez nada.

25 de agosto de 2010

Hasta la victoria siempre.

A revolução nas minhas veias e aquela nos meus olhos têm cores diferentes.

23 de agosto de 2010

Cuba



(Trilha sonora para a leitura aqui ou aqui)

E então como é que a gente abrevia o que viveu? Como é que a gente conta uma história sobre um lugar com a pretensão de que nossos queridos possam viver tudo aquilo através dos nossos olhos?

As fotografias não são suficientes e acompanhadas de um relato fiel talvez ficassem congeladas no tempo e espaço dos dias quentes, do ritmo abundante guardado nos tímpanos, dos pés que se perderam nas ruas de um lugar que jamais poderíamos antever, da falta de sal da comida criolla e do sabor temperado das gargalhadas inesperadas.

E se eu tentasse definir o quanto eu mudei, creio que teria mais a dizer sobre aqueles onze dias que sobre meu último ano de vida, explicado com clareza naqueles minutos solitários frente aos questionamentos do mar.

Viver não se explica. Mesmo. Tudo é muito mais fruto de saltar no desconhecido e esperar que o mundo seja gentil como uma mãe ao nos embalar.


16 de junho de 2010

Quarta-feira às 3h da tarde.

Nesse exato momento um velhinho de chapéu experimenta o sabor novo de um sorvete. Um grupo de cegos toma cerveja no bar dos garçons gentis. Um taxista cede a passagem para um casal de namorados. A moça da banca sorri sem entender o motivo. O sol invade o chão da loja de chocolates. Dois irmãos se encantam por um país distante. O farol abre. Fecha. O mundo continua vagarosamente.

Eu vagueio.

19 de abril de 2010

O Leite


Espanto-me ao não encontrar no outro
a doçura que falta na minha voz;
a simetria de rosto que me é ausente;
a graça das gentilezas que eu não faço;
os sorrisos que distribuo com parcimônia;
um outro que não mora em mim,
nem em ninguém.
Na verdade, eu não encontro desencontros.
Quiçá ausências, corpos que eu nunca tive.
Não pertenço a lugar algum,
porque sequer pertenço a mim mesma.
Era só um jeito de sorrir que eu tinha
e que perdi.


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Escrito em parceria com Fernanda Vicentini num dia sem sobriedade.

26 de fevereiro de 2010

São Paulo jazz


É fato que vai chover e eu terei vontade de caminhar longas horas sob as ruas molhadas da Avenida Paulista. A cada quarteirão morre e nasce uma dúvida, verte-se uma lágrima seguida de um sorriso, troca-se Janis Joplin por John Coltrane.

Eu terei mil idéias, afastarei uma centena de pensamentos e mudarei de opinião quantas vezes for possível no caminho que me leva do Paraíso ao final da Consolação. Todas as luzes incidentes distorcerão cada visão e hão de orientar cada olhar longínquo.

Talvez, ao passar pelo MASP, eu tenha uma epifania e sorria (gargalhe!) bem alto, para espanto dos concentrados transeuntes. Talvez eu cante em voz alta e de olhos cerrados durante o espaço de um quarteirão.

E eu sou só um recorte de mil pedaços. Uma fotografia velha que se reconstitui.
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OBS: A fotografia não está em CC.

12 de janeiro de 2010

Surpresa vespertina

Isso me chegou no meio de uma tarde nublada. Delicadezas, meus caros, delicadezas.

Insônia
p/ Priscila Basile

uma chaga
que se fecha
a cada minuto

uma clave de sol
chave para
você entender

as pálpebras que ardem

& o alfabeto
que dia e noite
suspira na sua carne


(R. Saffuan)
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Obrigada, meu querido.

21 de dezembro de 2009

Delicadeza

Um vagalume me atravessou.

E ele era bem mais bonito que todas as luzes de natal da Av. Paulista.

30 de novembro de 2009

Segunda nota sobre pequenos fracassos

Eu vi um silêncio que me chamou.

Conheço silêncios assim, sem nome, que engolem.

É um silêncio que sempre me convida a entrar em sua imensidão.

O silêncio me revela.