27 de março de 2006

Terrivelmente iguais são os fatos que cercam as pessoas. Olha lá na rua pra ver. Trânsito, megalomania, gritos e sussurros de quem não tem pra onde ir ou não sabe para onde vai.

Não há caminhos para quem não visualiza estradas. E infinitas são elas.

Não há de se pensar em passados mal construídos aliados a erros cometidos. Incrivelmente melhores são as previsões sobre o futuro, embora deixem obscuros os feitos presentes. Ausentes. Parte de ansiedades que habitam os mais obtusos lugares de quem faz da busca, uma constante.

O choro rasgado não aperta o coração, mas os olhos e a garganta. É nó e é lágrima oscilante nos cílios inferiores.

Há de procurar ciência para explicar a contenção da subjetividade. E não há ciência que abençoe abstrações. A benção vem antes de existir a teoria. A teoria perdeu espaço nas telas de computadores e na necessidade prática e emergencial do tempo agora.

A música pediu o silêncio. Eu silenciei.

20 de março de 2006

Eu nunca, mas já.

Eu nunca desfaço a mala. Porque eu prefiro viajar. Ou talvez porque eu prefira estar em todos os lugares. Não precisa ser ao mesmo tempo. Mas precisa mudar. Sempre.

Eu nunca fecho a janela. Porque eu prefiro deixar o ar entrar. Ou talvez porque eu sofra de claustrofobia e não saiba. Não precisa ventar. Mas o ar precisa circular. Sempre.

Eu nunca varro o chão. Porque eu prefiro sujar. Ou talvez porque eu tema perder alguma coisa. Não precisa me mandar. Mas às vezes eu limpo. Sempre.

Eu nunca ponho o chinelo. Porque eu prefiro andar descalça. Ou talvez porque eu queira sentir a temperatura de onde piso. Não que eu ache meu sapato. Mas eu me calço pra sair. Sempre.

Eu nunca ouço o telefone tocar. Porque eu prefiro encontrar. Ou talvez porque meu telefone esteja com defeito. Não precisa me ligar. Mas lá está o celular a tocar. Sempre.

Eu nunca planejo com antecedência. Porque eu prefiro me atrasar. Ou talvez porque eu realmente não consiga planejar. Não que eu tente. Mas a última hora está lá a me espreitar. Sempre.

Eu nunca me desconheci. Porque eu prefiro descobrir. Ou talvez porque hoje eu não esteja aqui. Não que eu esteja lá. Mas talvez lá seja outro lugar. Sempre.

16 de março de 2006

Eu tenho a impressão de que a cidade fica bem ali. No parapeito da minha janela. Basta subir,debruçar, olhar pra baixo e assim, ver as milhares de luzes de milhares de lugares que ninguém sabe ao certo o que é.

A cidade está cantando. Uma harmonia mal planejada, sinfonia confusa. Dedo e buzina. Mas,afinal, de quem é a esquizofrenia? Do dedo ou da buzina?

A situação do ar está regular. Mas daqui a pouco chove. E nada como a noite de São Paulo depois de umas horas de chuva.

Enquanto isso,o menino de rua se esconde debaixo do viaduto. Mas é empurrado por algumas rampas, feitas de material áspero e pontiagudo. E isso machuca o menino. Melhor ficar com a chuva ou procurar algum ponto de ônibus, mesmo que esteja lotado. É só esperar.
O difícil é não ter itinerário nenhum pra esperar. Ser só pra não se molhar.

E a sinfonia continua, embora o vidro do carro esteja fechado.
A obra continua a crescer, embora ainda não tenha dono.
A chuva continua a cair, mesmo que o frio já esteja aqui.
Mãos continuam estendidas, ainda que estejam vazias. A minha e a sua.

Logo mais, vai passar aqui embaixo da minha janela, uma multidão. Façamos silêncio.

13 de março de 2006

De que adiantaria ficar parado se, mesmo assim, e, apesar de tudo, lá estaria o mundo a girar e movimentar-nos, mesmo sem querer.

E de que adiantaria esperar o mundo girar sem, nem mesmo, mover-se, nem que fosse para descobrir uma nova pessoa.

Cá estamos nós, a tentar desvendar o mistério da civilização, nascida entre lutas de poder e perpetuada as custas de invenções mirabolantes sobre o futuro.

9 de março de 2006

Boca de lixo. De luxo tardio. De tempo vadio . De sol apagado e chuva reinando. De árvore parada com vento estático.
Não há brisa remanescente. Nem temporal de fluxo reluzente.
Itinerante de suas ruas de poetas maltrapilhos.
Vagando atrás de verdades vendidas em potes de supermercado, ou lojas de atacado.
A verdade é vendida no varejo.

No caminho se encontra a pergunta. Não a resposta.
As respostas vem antes das dúvidas.
Dúvida que endivida o indivíduo.
Único.
Amador de situações e situacionismos.
Há que reinventar-se pra tornanr-se colorido.


[texto duro, de palavras sonoras deslocadas e dançantes. entre páginas virtuais]

2 de março de 2006

[Eu não sei dizer nada por dizer
Então eu escuto
Se você disser tudo o que quiser
Então eu escuto

Fala
Fala
Se eu não entender, não vou responder
Então eu escuto
Eu só vou falar na hora de falar
Então eu escuto
Fala]

Cala a boca de palavra falha. Só olha. Folheia meus olhos e leia meu pensamento.
Falta uma palavra que cala , em silencio. Uma palavra que explique e outra que se desculpe.
A palavra que finda a dúvida que tira o sono, desperta do sonho e adormece a alma.
Para uma alma as palavras não fazem diferença ou sentido.
Mas, cá pra mim, eu procuro uma palavra definitiva.