25 de agosto de 2010

Hasta la victoria siempre.

A revolução nas minhas veias e aquela nos meus olhos têm cores diferentes.

23 de agosto de 2010

Cuba



(Trilha sonora para a leitura aqui ou aqui)

E então como é que a gente abrevia o que viveu? Como é que a gente conta uma história sobre um lugar com a pretensão de que nossos queridos possam viver tudo aquilo através dos nossos olhos?

As fotografias não são suficientes e acompanhadas de um relato fiel talvez ficassem congeladas no tempo e espaço dos dias quentes, do ritmo abundante guardado nos tímpanos, dos pés que se perderam nas ruas de um lugar que jamais poderíamos antever, da falta de sal da comida criolla e do sabor temperado das gargalhadas inesperadas.

E se eu tentasse definir o quanto eu mudei, creio que teria mais a dizer sobre aqueles onze dias que sobre meu último ano de vida, explicado com clareza naqueles minutos solitários frente aos questionamentos do mar.

Viver não se explica. Mesmo. Tudo é muito mais fruto de saltar no desconhecido e esperar que o mundo seja gentil como uma mãe ao nos embalar.


16 de junho de 2010

Quarta-feira às 3h da tarde.

Nesse exato momento um velhinho de chapéu experimenta o sabor novo de um sorvete. Um grupo de cegos toma cerveja no bar dos garçons gentis. Um taxista cede a passagem para um casal de namorados. A moça da banca sorri sem entender o motivo. O sol invade o chão da loja de chocolates. Dois irmãos se encantam por um país distante. O farol abre. Fecha. O mundo continua vagarosamente.

Eu vagueio.

19 de abril de 2010

O Leite


Espanto-me ao não encontrar no outro
a doçura que falta na minha voz;
a simetria de rosto que me é ausente;
a graça das gentilezas que eu não faço;
os sorrisos que distribuo com parcimônia;
um outro que não mora em mim,
nem em ninguém.
Na verdade, eu não encontro desencontros.
Quiçá ausências, corpos que eu nunca tive.
Não pertenço a lugar algum,
porque sequer pertenço a mim mesma.
Era só um jeito de sorrir que eu tinha
e que perdi.


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Escrito em parceria com Fernanda Vicentini num dia sem sobriedade.

26 de fevereiro de 2010

São Paulo jazz


É fato que vai chover e eu terei vontade de caminhar longas horas sob as ruas molhadas da Avenida Paulista. A cada quarteirão morre e nasce uma dúvida, verte-se uma lágrima seguida de um sorriso, troca-se Janis Joplin por John Coltrane.

Eu terei mil idéias, afastarei uma centena de pensamentos e mudarei de opinião quantas vezes for possível no caminho que me leva do Paraíso ao final da Consolação. Todas as luzes incidentes distorcerão cada visão e hão de orientar cada olhar longínquo.

Talvez, ao passar pelo MASP, eu tenha uma epifania e sorria (gargalhe!) bem alto, para espanto dos concentrados transeuntes. Talvez eu cante em voz alta e de olhos cerrados durante o espaço de um quarteirão.

E eu sou só um recorte de mil pedaços. Uma fotografia velha que se reconstitui.
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OBS: A fotografia não está em CC.

12 de janeiro de 2010

Surpresa vespertina

Isso me chegou no meio de uma tarde nublada. Delicadezas, meus caros, delicadezas.

Insônia
p/ Priscila Basile

uma chaga
que se fecha
a cada minuto

uma clave de sol
chave para
você entender

as pálpebras que ardem

& o alfabeto
que dia e noite
suspira na sua carne


(R. Saffuan)
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Obrigada, meu querido.