5 de dezembro de 2006

Foi andando na chuva para entregar um pouco do que sobrou de seus dias. Lá vai ela de guarda-chuva à postos. Pronta para mergulhar no céu cinzento e no asfalto molhado. A cada canteiro ia deixando uma lembrança, uma esperança e uma idéia. Na verdade ela ia se desfazendo das suas próprias penas e voltando devagarzinho à realidade.

Girou o guarda chuva como nas danças de frevo. Resolveu fechar. Mesmo que a chuva seja ácida ela ainda assim deve cumprir a função de lavar a alma. E, apesar de cair do céu, nada prende mais uma pessoa ao firmamento que a chuva.

Tinha um poema na cabeça e compunha mais um verso a cada farol vermelho. Foi desvendando seus pés, seus sapatos encharcados, os pingos de chuva na calça, no casaco.

Chegou ao destino traçado obrigatoriamente e deixou sua última fantasia. Antes disso, certificou-se de que ela não lhe iria sair seguindo sorrateiramente, se escondendo através dos postes de luz, ou das árvores mal plantadas.

O trajeto de volta ela fez diferente. Cada coisa já estava no seu lugar. Fez isso para não ser perseguida pelas coisas que havia abandonado no caminho. Ora, se ela as havia abandonado, mais conversa com aquelas coisas é que ela não queria.

Depois disso foi procurar o que fazer, não que houvesse, mas seria possível criar.

Um comentário:

thaispimenta disse...

sempre é possível..

ainda bem.