23 de outubro de 2006

A nossa raiz caipira

No lobby do Centro Cultural Vergueiro, era possível avistar uma fila que conduzia ao salão de shows. Já se entoava uma música doce, um tilintar de instrumentos delicados que sacudiam de leve os pés do público enfileirado. Podia-se ter a impressão de que muitos não conheciam, ou não sabiam o que os esperava, de outros, a felicidade no rosto denunciava o encontro de amigos que ali se consumaria.
Ao entrar no salão era possível perceber a ansiedade de alguns e a curiosidade de outros, transeuntes que ali foram levados pelo tocar macio da viola ainda em teste. Devidamente sentados, o espaço da platéia foi tomado pelos dançantes de trajes coloridos, que invocavam poemas ritmados, dançando ao som de sua própria cantoria. Os brincantes dão espaço ao som da viola caipira, reforçado pelo som da sanfona regida pelo mestre cego. Houve aqui a prova silenciosa de que a arte é regida mais pela sensibilidade. O cantador, Oswaldinho Viana, falava da saudade que se tem de um lugar. Mas o público percebeu que essa saudade deveria existir para que ele pudesse cantar esse lugar. Esse que é a saudade de todos nós, da gente que vem do interior, ou das raízes que um dia plantaram por nós lá. Marisa Viana depois se confirmaria paulistana e cantante do interior, dessa saudade que alguém por ela plantou lá. Enquanto os músicos estavam no palco, o silêncio na platéia era absoluto. Dava para perceber aqueles sorrisos de lado, como quem se deixa levar pela música, ou se encanta quando ouve um acorde bem tocado.
Uma infinidade de 25 músicos revezaram-se no palco, com os mais diversos tipos de instrumentos. A voz doce de Marisa misturou-se ao recado da alfaia, aos sons de sua percussão interiorana, ali de onde se ouviam passarinhos e o som dos sinos dos ventos levavam a gente pra longe de São Paulo, ali em plena Vila Mariana, do lado da Avenida Paulista. Oswaldinho, ele também silenciou ao evocar Piraju, sua cidade natal, falada em tantos versos, a cada estremecer das cordas da viola. Foi acompanhado pelo violino, que com se lamento triste pôs espectadores, inclusive esta que vos fala, a chorar.
Era uma saudade que pertencia a todos aqueles que saem de casa para buscar uma vida que ainda não se conhece, mas que se constrói porque a própria vida, essa não pára nunca, e tudo o que dá é saudade.

Um comentário:

Anônimo disse...

imagino a lindeza, pena que eu não estava presente, mais um transeunte tocado pelo som macio da viola.

as saudades pirajuenses sempre nos envolvem...

abraços pri